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MACHO

Criada por São Yantó (Lineker) em parceria com a diretora e coreógrafa Adriana Grechi (Núcleo Artérias, São Paulo), a performance de dança MACHO parte de um estudo sobre a construção da masculinidade hegemônica na sociedade contemporânea. O trabalho questiona normas, padrões, representações e códigos de masculinidade que são produzidos e reproduzidos por múltiplas práticas e discursos que, reiterados histórica e constantemente, dão-lhes um aparente caráter de naturalidade e/ou essencialidade.

A heterossexualidade compulsória, bem como o patriarcado, garantiram durante séculos, e continuam garantindo, a dominação coletiva e individual dos homens sobre as mulheres e, ainda, dos homens sobre outros homens, os quais, por diversos motivos, desfiguram do padrão de masculinidade socialmente esperado. Essa dominação se exerce nas esferas pública e privada e atribui aos verdadeiros “machos” privilégios materiais, culturais e simbólicos. Tais privilégios se mantêm e são regulados por inúmeras práticas e discursos, produtores de desigualdades de gênero e, consequentemente, de múltiplas violências perpetradas no meio social. Os próprios homens, no processo da construção de sua masculinidade, irão sofrer diversos abusos e violências para garantirem e alcançarem o status do “macho” merecedor de tais privilégios.

Todos os “machos” terão de empreender eternamente inúmeros esforços para aniquilarem em si tudo aquilo que não corresponde ao que, dadas as singularidades de cada contexto sociocultural, corresponde ao protótipo do “macho”. Só assim poderão sustentar uma “masculinidade legítima”. A mensagem dominante é: “ser homem é ser diferente do outro, diferente de uma mulher” (Daniel Welzer-Lang). As experiências que não são dignas do rótulo “macho” e que também não atendem ao requisito de uma “feminilidade legítima” (mulher cisgênera e heterossexual, em geral submissa à dominação do macho) vão habitar um limbo de abjeções. A tais experiências, experiências fronteiriças, situadas nas zonas inóspitas da vida social, é negada a condição de inteligibilidade e materialidade. São corpos que não “importam”.

Passando por diferentes ações e estados corporais em um estreito corredor formado pelo público, a performance de dança MACHO evoca justamente esses corpos, essas experiências tidas como ilegítimas dentro de nossa matriz sociocultural cis-hetero-normativa. Corpos quase masculinos, corpos que fracassaram, que não se tornaram dignos ou abdicaram dos privilégios do “ser macho”. Corpos que revelam as violências e a fragilidade dessas construções.

O processo de criação teve como principais recortes de investigação artística as conexões entre movimento e voz, o desejo, o queer e ícones da cultura pop. Possui como referencial teórico estudos feministas, estudos de masculinidades e teorias queer. O trabalho foi contemplado pelo edital ProAC LGBT 2014, e estreou em agosto de 2015 na FUNARTE de São Paulo.

 

Concepção e performance: Lineker (São Yantó)

Orientação e provocação: Adriana Grechi

Trilha Sonora: Gustavo Lemos

Duração: 45 minutos

Classificação indicativa: 16 anos.

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